APRESENTAÇÃO
Nos
últimos 5 anos que antecederam o final do século,
após frequentar esta Casa, a autora passou a
relevar a sua importância no próprio
aprimoramento profissional, considerando,
conforme suas convicções, que nenhum cientista
pode isolar-se no recesso de seu gabinete, ou
nos desvãos julgados inatingíveis do seu
mundo interior. Seja qual for a área de
pesquisa, o acesso ao conhecimento somente será
possível, mergulhando nos acontecimentos, ações
e decisões que constituem o mundo do terceiro
milênio.
Parafraseando
Arthur Ramos (Hotel Drake, Chicago, 1941)*
, somente o distanciamento - proporcionado por
esta Instituição – no tempo e no espaço, e
a participação nos debates e discussões,
possibilitam verificar como é difícil
exterminar aquele defeito de atitudes que os
antropólogos chamam de etnocentrismo; como é
difícil deixar de querer impor aos outros os
conceitos que nos acostumamos a julgar como
sendo os melhores. Não há possibilidade de
discutir o futuro sem antes destruir o que esta
errado, sem eliminar as mazelas que levam ao
conflito; sem participar do conflito para
amenizar este.
Maceió,
30 Junho de 2000
MARIA
HELENA DE AMORIM WESLEY
___________________________________ ______________________________________
I
- INTRODUÇÃO
A
escolha do tema propõe uma reflexão sobre a América
Latina (MERCOSUL) e suas relações com a Europa
(UNIÃO EUROPÉIA), envolvidas pela
irreversibilidade da globalização que
caracteriza a mudança do sistema internacional
trazida pelo pós guerra fria, onde a primeira
afigura ajustar-se como parceira no sistema
mundial contemporâneo.
Entretanto,
deve-se considerar que apesar do modismo implícito
no termo globalização, o processo de
internacionalização econômica sempre fez
parte da História, e a expansão das fronteiras
comerciais iniciadas no século XVI (geralmente
adotadas como marco) e desenvolvidas pelo
capitalismo, são tão somente uma delimitação
histórica diante da revolução científico-tecnológica,
onde as produções e técnicas dominantes
estabelecem a lei do valor e a produção total,
num cenário em que o labor científico
subordina-se à produção e onde a ciência
mostra o seu papel produtivo. Este cenário,
nada mais é, senão, do que o sistema
internacional capitalista, no qual a unidade, a
integração e a complementarização
capitalista a nível mundial, asseguram sua
auto-evolução, com base em países
considerados desenvolvidos.
Para
a concretização da proposta-temática aqui
delineada, o atendimento preciso do termo
integração é essencial, considerando-se que o
contexto da sistemática das relações
internacionais contemporâneas, traz consigo uma
reorganização regional – a exemplo do que se
pode observar no MERCOSUL –, e onde a análise
sobre integração regional e sub-regional,
torna-se imprescindível.
Em
seu aspecto regional, a proximidade geográfica
e a experiência histórica, evidenciam a
associação de estados soberanos e partícipes
de uma área contínua, com uma evolução
relativamente pacífica, graças a semelhanças
sócio-culturais e geográficas, enquanto que o
processo de integração internacional,
geralmente representa, a priori, uma associação
entre estados separados, correspondendo,
possivelmente, ao que Smith (1993) designa de
compreensíveis.
Tais evidências aclaram as diferenças
entre cooperação (que pode ocorrer entre
governos, independentes da integração) e a
integração (onde em geral ocorre o surgimento
de uma nova entidade).
O
caráter regional das dinâmicas de integração,
impõe a observação do regionalismo como noção
espacial relevante para a análise, devido a
variabilidade dos processos de integração
(instrumento que permite a avaliação
qualitativa e quantitativa do processo), que se
fundamenta na concentração de um órgão
supra-nacional implementando as políticas
comuns, solucionando disputas e ajudando a
estender a acomodação, na busca de concordância
harmônica de uma entidade regional. Lato sensu,
regionalismo se define como elemento intermediário
do estado nação e o sistema internacional,
compondo múltiplas unidades de decisão, cuja
natureza multilateral, numa escala de integração,
fundamentada na comunidade de valores
(identidade cultural, religião, etnia, etc.,)
pode constituir uma comunidade política, caso
se identifique uma comunidade de poder com
regras formais e instituições próprias. Nas
relações internacionais, as regiões integram
o estado nação, como formas territoriais
politicamente organizadas.
Como
unidade política, a região é fundamental para
as relações internacionais contemporâneas, e
pode ser considerada de três modos: a) como
unidade geopolítica, centrada à volta de uma
entidade geográfica que serve de base à ação;
b) como cooperação política organizada dentro
de um dado grupamento de estados; e c) como
unidade regional (ator político consolidado no
sistema internacional), o que significa o
preenchimento das condições necessárias, a
saber: valores partilhados, propósitos comuns e
identidade regional suficiente de forma a
fornecer para a unidade regional a definição
de cidadania, requerendo posteriormente uma
moeda única e um sistema de defesa integrado.
A
complexidade da região, enquanto expressão
histórica dos processos de integração, sugere
que a estabilização do novo ator no sistema
internacional pode ser longa e intrincada, e,
neste contexto deve-se esperar que o processo de
construção europeu e as dinâmicas de integração
na América Latina sejam marcados por avanços e
recuos.
II
– INTEGRAÇÃO REGIONAL: a experiência
européia e as perspectivas do MERCOSUL
Os
atuais programas de desenvolvimento regional,
caracterizam o sistema europeu pela promoção
em regiões menos desenvolvidas de ações
integrativas em programas de desenvolvimento
regional em várias partes do mundo. Isto
destaca-o pela estrutura e alcance, além de
demonstrar que a redução das disparidades
regionais não pode ser considerada um
anacronismo próprio de economias estatizadas do
terceiro mundo (Recena, 1998).
Em
geral, a posição competitiva da UE é indiscutível,
como se pode constatar nos últimos vinte anos
através da melhoria de desempenho que fortalece
aquela posição no todo, muito embora ainda
persistam disparidades que caracterizam suas
regiões e sub-regiões (atrasadas, intermediárias
ou ricas), e em seus Estados membros, a exemplo
de Espanha e Portugal. Tal fato possibilita o
ajustamento das forças sociais na região, avançando
na competição territorial e concentrando esforços
nas condições necessárias a manutenção e
aumento de sua posição. Obviamente que algumas
regiões possuem níveis e vantagens maiores,
mas a ênfase do processo dinâmico de
crescimento no atual contexto competitivo e
inovador, conduz a um conceito de mudanças
espaciais igualmente dinâmico que caracteriza a
realidade contemporânea européia (Cuadrado-Roura,
1998), embora o desenvolvimento das relações
da União Européia com o NAFTA e o possível
surgimento de uma hierarquia tripartite (Estados
Unidos, Europa e Japão) constitua uma fonte de
preocupação, pela possibilidade de exclusão
dos países menores.
Na
economia globalizada, a integração
internacional constitui figura de proa, basilar
para o fortalecimento dos países envolvidos,
possibilitando, desta forma, o desaparecimento
de obstáculos ao comércio inter-regional e
facultando a participação de países menores
no comércio e na diplomacia comercial. O
segundo elemento importante nos debates sobre a
evolução do Tratado de Maastricht, é a dimensão
social (tema tão controvertido quanto o da
unidade monetária).
O
desafio presente na dimensão social, deve-se a
interdependência da política social com a coesão
social. O esquecimento desta interdependência,
poderá trazer o questionamento de todo o
projeto europeu e poderá constituir um desmonte
da política social européia, destruindo o
conceito de coesão que configurará uma
profunda crise.
Quando
no início, ainda em gestação, a política
social da União Européia visava
principalmente, melhorar o padrão de vida dos
trabalhadores, e pretendia , também, que países
de padrões sociais inferiores não obtivessem
vantagens competitivas. Configurou-se, nesta
ocasião, o dumping social, na procura de maior
competitividade, baixando os custos de produção
pela redução do chamado salário social, ao nível
geral de proteção social. A expansão européia
agudizou o problema do dumping social, com a
inclusão da Irlanda (1973), da Grécia (1981),
e dos Países Ibéricos (1986), que resultou no
Tratado de Maastricht e, posteriormente, na
proposta de adoção do Quarto Pilar para
debater e solucionar questões sociais, que foi
vetada pelo Reino Unido, dando lugar a inclusão
da Carta social (1991), como anexo ao Tratado da
União Européia. Nesta se prevê um mecanismo
chamado de Acordo Social Europeu, onde, exceto o
Reino Unido, os Estados membros debatem e
legislam sobre política social. Na União Européia,
a legislação social cobre três aspectos: a)
saúde e segurança ocupacional; b) promoção
da igualdade entre os sexos; c) e proteção dos
interesses dos trabalhadores, tendo o Fundo
Social Europeu promovido a formação
profissional de jovens e desempregados.
A
desaceleração generalizada da taxa de
crescimento econômico, iniciada em 1992,
preteriu os debates para a Matriz e intensificou
a pressão sobre os Estados membros de se
afastarem de alguns elementos mais ambiciosos
previstos no acordo de política social o que
resultou no Livro Branco (sobre política
social) produzido em conseqüência pela Comissão
Européia.
Atualmente,
a temática da integração na Europa prende-se
a expansão e alargamento do processo
integrativo, o que certamente influencia as
discussões iniciais na América Latina, não
para adoção de um modelo idêntico ao europeu,
mas para levar em consideração a UE como um
marco referencial na temática aqui proposta.
O
processo político na América Latina e na
Europa, vem consolidando nos últimos 50 anos o
sistema democrático, onde se inserem os
direitos humanos, a liberdade de imprensa, a
ecologia, e a relação comercial. A revolução
na consciência ecológica européia, sobretudo
na Europa Ocidental, é algo que interessa a América
Latina para o amadurecimento do MERCOSUL, tendo
em vista o desenvolvimento sustentável, hoje um
conceito de validade universal (apesar das últimas
notícias para votação no Congresso sobre a
preservação de 20% da Floresta Amazônica, e a
transposição das águas do São Francisco...).
Mas, vivendo no contexto de globalização,
sabe-se que os riscos e as oportunidades são
inerentes e não podem ser evitados, pois,
"Todos nós, além de navegarmos na
Internet, como País temos que surfar na
globalização, para que possamos chegar juntos,
com os europeus, nessa praia do futuro" (Sardemberg,
1997).
Os
aspectos até aqui esboçados, questionam as
oportunidades de êxito do processo de integração
sub-regional na América Latina. Entretanto,
deve-se considerar que a formação de um espaço
econômico integrado está sujeito a etapas de
retração e expansão, e que as realidades
contrastantes não constituem obstáculos para
sua efetuação. Antes, as diversidades devem
ser tomadas como elemento de integração,
consolidando-se em uma base institucional
pequena, mas solidamente estruturada, diferente
do espaço supra-nacional europeu. A construção
e manutenção do modelo intergovernamental,
pode encaminhar o futuro de curto e médio
prazos, conforme a capacidade de negociação
das diferenças, fazendo com que a insegurança
gerada pela consciência das diversidades, feneçam
à medida que o processo integrativo comprove a
dinâmica do Mercosul, diluindo a interpretação
de que a cessão de soberania seja sinônimo de
um jogo com resultado nulo.
A
diminuição das divergências
argentino-brasileiras, provavelmente se reduzirão
com o aumento do número de participantes,
contendo os efeitos negativos da diversidade,
embora, simultaneamente, a presença de novos
Estados-membros, dependa de maior convergência
entre Argentina e Brasil, principal nódulo político
para a entrada do Chile no MERCOSUL.
III
– AS RELAÇÕES UNIÃO EUROPÉIA E MERCOSUL
No
processo de globalização, tanto na UE, como no
Mercosul, os fatores endógenos e exógenos estão
subordinados à economia internacional, como se
observou na Europa o impacto do plano Marshall e
no comportamento dos Estados Unidos na década
de 50 (Maier, 1991) que induziram à percepção
de que somente através de uma plataforma
comunitária se poderia alcançar uma tecnologia
e uma economia para enfrentar a competição
norte-americana e japonesa da década de 80
(Cecchine, 1988) que transformaram a Comunidade
Econômica Européia em principal exemplo do
processo de regionalização e condutor na formação
de blocos geoeconômicos. No caso do Mercosul,
apesar das diferenças de caráter estrutural,
os países participantes têm a vinculação com
o processo de globalização caracterizado pelo
maior crescimento de variáveis internacionais
do que nacionais e intensificação do intercâmbio
tecnológico entre nações industrializadas,
forçando a adoção de estratégias de um
crescimento defensivo, cujo processo
sub-regional, busca a ampliação da
competitividade econômica internacional dos países
partícipes através de novas possibilidades de
comércio e investimentos (Hirst, 1992ª), e
onde o Mercosul pode ser considerado como um
impulso sub-regional vinculado às políticas
comerciais latino-americanas.
Não
se pode desvincular o Tratado de Assunção do
difícil processo de negociação de um novo
regime multilateral de comércio consagrado com
a conclusão da Rodada do Uruguai, onde as
negociações ocorreram sob influência do
modelo de harmonização assimétrica
introduzido pelo NAFTA, que apesar de não ter
superado os dilemas estruturais da relação
Norte-Sul, potencializou vinculações entre comércio
e investimento para novas oportunidades no
processo de globalização.
As
variáveis políticas nacionais, condicionantes
do comportamento dos países membros do
Mercosul, originam-se na macro-política
presente na vigência da democracia como sistema
de governo, favorecendo uma nova imagem externa
com a progressiva desmilitarização da agenda
política interna, o que possibilitou o
desenvolvimento de novos campos de cooperação
intra-regionais (econômica, comercial, segurança,
energia e comunicação). Todavia, a democracia,
enquanto condição necessária, não assegurou
um processo de integração positivo, diante da
precariedade de convergências das opções políticas,
agudizando as questões sobre diversidade e
divergência. Como foi colocado anteriormente, a
diminuição das divergências
argentino-brasileiras, provavelmente se reduzirão
com o aumento do número de participantes,
contendo os efeitos negativos da diversidade,
embora, simultaneamente, a presença de novos
Estados-membros, dependa de maior convergência
entre Argentina e Brasil, principal impasse político
para a entrada do Chile no Mercosul, onde a
resistência de segmentos econômicos internos,
oriunda do temor da associação com economias
de estabilidade duvidosa, poderia envolver,
involuntariamente, tensões políticas que não
lhe dizem respeito.
IV
– A AMÉRICA E A EUROPA NO CENÁRIO GLOBAL
A
conjuntura mundial no início dos anos 90 se
apresentou eivada de promessas, oportunidades e
também de punhados de incertezas e frustrações,
nascidas do rompimento dos sistemas de valores e
das redes de solidariedade que ampliavam (e
ainda ampliam) o flagelo da exclusão econômica
e social, anteriormente ocultos nos confrontos
entre blocos na guerra fria. Delineou-se, no
final do milênio, a formação de aglomerados
transnacionais, como a União Européia e a Área
de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA),
e outros acordos mais restritos, em matéria
comercial e monetária, entre grupos e países
que partilham os mesmos interesses e convicções,
conformando tendências para uma nova ordem
global com movimentos mais livres de bens, serviços,
capitais, moedas, pessoas e idéias além das
fronteiras regionais, diferentemente do que
ocorreu antes da Segunda Guerra Mundial (Cuellar,
1997).
Retomando
dados históricos, constata-se que após a criação
da CE (Tratado de Roma, 1957) passou a existir
um relativo afastamento entre a América e a
Europa, motivado pela desconfiança entre as
duas regiões sobre os elementos constitutivos
dessas comunidades.
Os
anos 60 mostram o Brasil com uma pauta de 90% de
exportação limitada a produtos básicos (com
características ainda da monocultura colonial),
o que constituía fonte de preocupação para
com países competidores. Já para o Chile e
para a Argentina o objeto de temor era a PAC
(Política Agrária Comum), em face da forte
proteção criada, que praticamente
inviabilizava o acesso aos produtos de exportação
(trigo e carne) exportados pelo Uruguai e pela
Argentina.
A
quase inexistência de diálogo entre a América
Latina e a UE, tornou obsoleto o Grupo
Latino-Americano até os anos 80, quando
Portugal e Espanha passaram a integrar a UE, por
razões óbvias e também para valorizar a própria
presença no contexto europeu.
A
primeira atenção européia para com a América
Latina, surge a partir de 1985, graças ao papel
de interlocutor exercido pelo Grupo do Rio na
crise da América Central, além do potencial
que o Cone Sul e o México representavam.
O
surgimento do MERCOSUL (1991) e da intenção de
uma união aduaneira, atraiu o interesse
europeu, gerando acordos modestos, por não se
contar ainda com uma personalidade jurídica. Os
Estados Unidos não tiveram nenhum gesto
positivo para o estabelecimento de diálogo (Dauster,
1997).
A
noção de que o MERCOSUL constitui a quarta
entidade econômica do mundo em termos de PIB
– Estados Unidos (1°), União Européia (2º)
e Japão (3º) – caminhando rapidamente para
um trilhão de dólares anuais de PIB, fornece a
dimensão da importância que o MERCOSUL passou
a ter, e a consciência que a Europa tem deste
fato, tornando-a a mais expressiva fonte de
investimentos no Cone Sul (Dauster, 1997) .
A
redescoberta de um patrimônio cultural e
civilizatório comum, proporciona o resgate da
parceria histórica, antes encoberta pelo papel
centralizador exercido pelos Estados Unidos no
Continente Americano.
Durante
a Rodada do Uruguai (1992), presenciou-se a
incerteza entre a globalização e a fragmentação,
levou os parceiros a buscarem posições diante
dos riscos da fragmentação, e a evidência de
que a globalização não será perfeita e íntegra,
graças as brechas para relacionamentos
privilegiados para regiões e espaços econômicos.
Somente
após a irônica iniciativa para as Américas de
Bush, os Estados Unidos passaram a focalizar o
potencial econômico da América Latina,
iniciando, com o NAFTA, políticas profundas de
integração. Isto aguçou a percepção européia
para os altos prejuízos econômicos e
comerciais com a paralisia do Cone Sul, e fez
com que a UE fosse o único interlocutor efetivo
do Mercosul nos seus quatro primeiros anos (Dauster,
1997).
A
formalização do MERCOSUL, que culminou no
Acordo dos Quatro, obriga os países latinos
americanos a elaborar uma articulação
atualizada com as exigências contemporâneas,
cuja experiência delineia um aprendizado básico
para tudo o que vier a ser feito em termos de
política comercial, diante dos desafios
colocados pela OMC e nos vários esquemas de
integração.
As
linhas de força da UE abaladas pela queda do
muro de Berlim, transformou as fronteiras em
elementos de risco, levando à uma série de
acordos defensivos, a fim de conter movimentos
migratórios violentos que originam convulsões
econômicas e sociais, conforme observação
desta autora, nos subúrbios de Paris, Madri,
Lisboa e Porto, praticamente tomados por
imigrantes. Em face deste quadro, a Europa
atualmente vem reforçando sua estratégia de
segurança nas fronteiras ao Norte, ao Leste e
ao Sul, através da oferta de condições de
acesso preferencial ao seu mercado. Para não
ficar limitada a uma atividade defensiva, a UE
estabeleceu o primeiro acordo com o MERCOSUL,
considerando, supõe-se, a localização deste
em uma área praticamente sem riscos, onde
praticamente não existem ameaças políticas
diretas, nem recursos naturais considerados
essenciais e estratégicos. Enquanto a América
Latina, por interesses estratégicos, busca
intensificar a relação com a UE, esta já
concretizou uma rede de acordos contidos,
sobretudo, no livre comércio.
Graças
a visão segmentada da América Latina, a UE
promove o impulso na questão da integração
hemisférica, onde somente se pode e deve
aceitar a negociação quando o MERCOSUL for
considerado como unidade.
Na
busca de uma posição pragmática, a aliança
entre MERCOSUL e UE funciona como instrumento de
integração, onde o trabalho político ao ser
reforçado, contribui para o desenvolvimento na
área econômica, estabelecendo meios reais para
a construção de uma zona de livre comércio,
através do aprimoramento na capacidade de
investimento recíproco.
V
– POLÍTICAS E ESTRATÉGIAS
O
argumento central deste trabalho pode ser
resumido em quatro pontos:
1
– Embora com pequeno desenvolvimento, o
MERCOSUL constitui uma região que a médio
prazo pode se incorporar no plano econômico do
Primeiro Mundo, graças a sua localização
geográfica e seus recursos humanos;
2
– Para que esta incorporação ocorra,
torna-se indispensável um melhor aproveitamento
dos fatores produtivos, o qual requer o
estabelecimento de uma competência que premie
os melhores;
3
– Isto significa uma profunda mudança no
ordenamento econômico, e necessita,
principalmente, de uma transformação
industrial que possibilite a exportação de
manufaturas, num amplo programa de abertura para
o comércio exterior;
4
– As modificações substanciais requeridas,
esbarram na resistência de interesses
empresariais e sindicais, além do prejuízo
ideológico próprio do populismo que ainda
permeia a política dos Estados membros.
VI
- CONCLUSÃO
A
identidade percebida nos objetivos gerais dos
processos de integração, enfatizam o progresso
econômico e social, e o fortalecimento da união
entre os povos pertencentes aos respectivos países
membros.
Entretanto,
os processos de integração europeu e
latino-americanos se efetuam em conjunturas típicas,
e a análise desses processos, aqui abordados,
evidenciam as diferenças estruturais,
funcionais, financeiras e jurídicas entre as
organizações do MERCOSUL e UNIÃO EUROPÉIA.
Ao
se atentar para os objetivos específicos -
requeridos para alcançar os objetivos gerais -,
as diferenças estruturais dessas duas organizações
são variáveis importantes para uma correta
compreensão. As razões especificamente econômicas,
levaram o Brasil e a Argentina a tentar superar
as divergências históricas, junto com o
Paraguai e o Uruguai, através de uma cooperação
para o estabelecimento de um mercado comum,
resultando no surgimento do MERCOSUL, que prega
o estabelecimento de um mercado comum, levando,
conseqüentemente para uma união aduaneira e
livre circulação de mercadorias. Na Europa, as
razões econômicas e sociais (crise, pobreza e
carência de produtos alimentares) e político
militar (temor do descontrole no uso do aço e
do carvão), conduziram à uma cooperação e
envolvimento no processo de integração.
Os
processo de integração europeu e
latino-americano, definem estruturas orgânico-institucionais
e quadros jurídico-administrativos distintos,
por se efetuaram em conjunturas diversas,
expressadas na globalização e interdependência,
no caso americano do Cone Sul, e no pós-guerra,
no caso europeu.
Nesta
breve análise, as características diversas das
organizações internacionais, fundamentadas em
perspectivas teóricas diversas subjacentes,
demonstram concepções neofuncionalistas e
federalistas para a União Européia, onde,
paralelo aos órgãos representativos dos
governos, foram instituídos órgãos
representativos dos povos, dos poderes locais, e
dos interesses e atividades, além de órgãos
de caráter intergovernamental e órgãos de caráter
supra-nacional, sempre prevendo a integração
política, processo no qual "[...] os
Estados renunciam ao desejo e a faculdade de
conduzir independentemente uns dos outros a sua
política externa, assim como as suas principais
políticas domésticas, e procuram tomar decisões
em conjunto ou delegar o processo decisório a
um novo órgão central" (Lindberg, 1963,
p. 06), mantendo-se sempre presente a
necessidade de articulação entre a cooperação
técnica e o aspecto político, apesar da
prioridade da integração sócio-econômica.
No
caso do MERCOSUL, a concepção funcionalista da
integração internacional está contida no
princípio da separação entre as competências
políticas (política externa, segurança e
defesa) e as competências técnicas e sócio-econômicas,
na transferência da cooperação
intergovernamental de um domínio para outro, e
no respeito pela natureza e caráter
intergovernamental dos órgãos protagonistas do
processo integrativo, onde o Ministério das
Relações Exteriores dos Estados, coordenam as
atividades do Grupo Mercado Comum, diverso do
que se observa na União Européia, que tem como
pilar a Comissão, como órgão supra-nacional a
quem compete a iniciativa legislativa, a execução
administrativa, a gestão dos Fundos e dos
Programas Comunitários, e a salvaguarda da
correta aplicação das normas comunitárias.
Na
linha destas considerações, a referência à
dimensão política do Mercosul apresenta uma
conjuntura que emperra o processo de integração
sub-regional, diante do conjunto adverso
representado pela retração da vontade política
que limita o desenvolvimento de uma diplomacia
presidencial capaz de impulsionar o processo de
integração. A democracia presidencialista,
geralmente caracterizada pelas simpatias e
humores dos mandatários, realçam uma variável
interveniente em qualquer iniciativa
governamental. Por outro lado, a ausência de
redes interpartidárias, dificulta a diplomacia
interpartidária, afetando a opinião pública,
direta ou indiretamente relacionada ao Mercosul,
tornando vulnerável a politização, sobretudo
aquela que contraria setores econômicos
internos/domésticos, conduzindo a pontos
semelhantes do Mercosul com o Benelux.
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